Vejo na esquina um rapaz estranho observando a multidão,
calado.
Em seu rosto há paz, não há muita expressão, mas seus olhos
estranhamente brilham. Há um grande brilho em seu olhar enquanto passa pelas
esquinas agitadas.
Ele está com as mãos no bolso, nada mais que um rapaz comum.
Mas quem o conhece sabe que em seu coração há muito calor. Não um calor comum, pois
ele vem de um coração aberto aos próprios sentimentos. Ele vem de um coração
ascendido que despertou na terra.
Esse rapaz, nessa esquina, quieto, está ali a reverenciar o
humano que arde em nós depois que despertamos para nossa alma. Ele está ali,
vivo, porém consciente dos desamores que tantas vezes nos conduz. E olha para
tudo isso com profunda reverência.
Aprendeu uma arte, que é a arte da reverência, que
nos ensina a tornarmo-nos um observador solitário em meio ao caos que vivemos. A
arte de andar só em meio à multidão tendo como guia unicamente a essência que
nos habita.
Estar consciente na Terra, mas mesmo assim caminhar em paz solitariamente
é sim uma arte, dos grandes de coração. Não são todas as almas que possuem essa
capacidade de saber, e ainda assim caminhar. É para os nobres, os não comuns.
Saber a arte da reverência é nada mais que estar consciente
de que cada um de nós que despertou para nobres sentimentos, que nos aquecem a
alma, sentem no fundo do coração aquilo que é estar humano. Sentem mais que
aqueles que dormem, porque há compaixão, há calor, há amor. E por haver isso
tudo se torna mais duro, severo, pesado, estar aqui.
Mas mesmo assim esse rapaz continua. É verdade, ele não é
muito bem compreendido em seus dias. Muitos dizem que ele é estranho, mas isso
já não o aflige mais. Porque ele sabe!
Em seu interior há um misto de medo e dúvida, coragem e certeza.
Há beleza e feiura, fé e descrença, amor e ódio. E tudo isso borbulha enquanto
observa a multidão. Embora sua face continue em paz e seu olhar mantenha aquele
brilho incomum!
Parece ser uma alma valente, porque apesar de estar aberto a
seus sentimentos, dilui-se na multidão sonolenta.
É um rapaz estranho mesmo, pois como pode alguém observar
enquanto todos estão a agir? Realmente é incomum. Ninguém observa as reações,
os sentimentos, as dúvidas humanas. Mas esse rapaz sim, porque ele aprendeu a
arte da reverência.
O que será que se passa com esse rapaz? Pois mesmo com um
olhar incomum ele continua sua jornada como se nada percebesse, anonimamente na
multidão. Anda calado observando todos aqueles que ainda não reverenciam o
humano, que, ao contrário, tratam como se estar humano fosse algo tosco, sem
importância.
Mas ele observa tudo isso em paz, sabendo que está nos
últimos anos de uma escola muito interessante, a Terra. Esse rapaz é apenas
mais um que aprendeu a arte da reverência, que se tornou um Mestre a caminhar
em silêncio no meio das mais duras provas da alma. A quem o saldamos agora!
Saudamos, sim, para que siga em paz, com sua arte de
reverenciar. Ele faz algo que parece simples, mas não é, que é simplesmente
saber o que é estar humano sem que percebam o que ele sabe.
Thiago Strapasson 05/01/2019
Fonte: coracaoavatar.blog.br
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